Sonhar coletivamente o território faz parte da história da Tabôa. E, por isso, nada melhor do que celebrar a primeira década de atuação, reunindo a comunidade para pensar juntos a Serra Grande do futuro. Foi o que aconteceu no último dia 25 de outubro, quando cerca de 50 pessoas, entre lideranças e integrantes de organizações e iniciativas comunitárias locais, participaram da Prosa Comunitária A Serra Grande que Queremos, no Centro Integrado de Educação Integral de Serra Grande (CIEI).A pergunta sobre o que precisa ser feito no presente para construir a Serra Grande desejada para o futuro orientou os trabalhos ao longo do dia. Por meio de uma metodologia colaborativa, os participantes foram convidados a construir coletivamente uma visão estratégica para o território considerando o horizonte dos próximos 10 anos.
“A Tabôa é uma organização que está conectada, enraizada no território de Serra Grande e há dez anos tem feito coisas a partir das escutas daquilo que as pessoas e as iniciativas que estão nesse território trazem. E olhando para o futuro, é muito importante que esta organização continue planejando as suas ações também de forma participativa”, explica Robson Bitencourt, gerente de Desenvolvimento Territorial de Serra Grande e Entorno.
Inspirados na perspectiva de construção de uma Serra Grande mais justa e sustentável, os participantes se dividiram em grupos para discussões e produções coletivas relacionadas a nove eixos temáticos considerados relevantes para o território: saúde, educação, segurança, moradia e infraestrutura urbana, cultura, socioeconomia, meio ambiente, participação social e esporte.
Cada grupo temático se formou espontaneamente e se reuniu em seguida para discutir e construir uma visão da situação atual, uma visão de futuro desejado e as prioridades para aquele tema no desenvolvimento de Serra Grande. Foi o momento de trocar olhares e ideias de ações para o território, a partir da diversidade e da inteligência coletiva.
Os participantes também foram estimulados a produzirem, junto com seus grupos de coconstrução, uma manifestação artística que ilustrasse uma situação atual ou de futuro desejado para Serra Grande em relação ao tema trabalhado. A criatividade coletiva aflorou na criação de cenas teatrais, programa de rádio, cantorias, ciranda e poesia.
Para realizar o encontro, a Tabôa contou com uma equipe de apoio na elaboração e facilitação - formada por Camila Leite, João Pedro Vilela, Joselita Machado e Mara Campos. Liderança e participante de iniciativas comunitárias locais, Joselita, mais conhecida como Dona Jô, destacou a importância do momento: “O sistema capitalista nos dividiu e nós perdemos essa coletividade de decidir as questões sociais do território. Então, a gente precisa muito de espaços como esse para que a gente possa voltar a se desenvolver com um mínimo de humanidade e coletividade.”
Para Mara Campos, que também integra coletivos e ações comunitárias, participação é palavra-chave: “Uma Serra Grande justa começa com participações como essa. Nós estamos aqui, construindo junto e sonhando junto com o futuro. É essa participação e esses fóruns de debate que a gente quer que aconteçam mais, com maior participação de todas as pessoas da comunidade.”
As análises de contextos e visões de futuro, produzidas durante o encontro, serão sistematizadas pela Tabôa, com o objetivo de aprofundar as reflexões sobre propostas coletivas para o território.
10 anos de Tabôa | O final do encontro foi marcado pela celebração da primeira década de atuação da Tabôa. Em 2015, a organização iniciava sua atuação na vila de Serra Grande, no município de Uruçuca, no sul da Bahia. A motivação para sua criação surgiu, contudo, dois anos antes, durante as discussões públicas do Plano de Referência Urbanístico e Ambiental (PRUA), quando se identificou a necessidade de uma agência local de desenvolvimento econômico. Este sonho logo foi ampliado, a partir da percepção de que a dinamização econômica precisava ser acompanhada do fortalecimento da sociedade civil. Começava a tomar forma, então, o que viria a ser a Tabôa Fortalecimento Comunitário.
Dois anos depois, em 2017, com as ações de fortalecimento da agricultura familiar, a Tabôa amplia sua abrangência, passando a alcançar mais territórios baianos e também outras regiões e estados, como é o caso do Pará, onde atua, desde 2024, no apoio a famílias agricultoras produtoras de cacau. De lá para cá, já são 39 municípios e mais de 4 mil pessoas alcançadas.
Atuando com e a partir dos territórios, a Tabôa tem tecido sua história junto com as comunidades. Serra Grande, onde está sediada, é, ao mesmo tempo, foco e polo irradiador das ações de um dos programas institucionais, que se dedica, por meio de diferentes estratégias e ações, a potencializar o protagonismo comunitário na gestão ativa do território.
“É um dia muito importante para Tabôa. É o ano em que a gente completa dez anos e poder olhar, junto com a comunidade, para o que a gente já construiu juntos, e construir coletivamente uma visão do futuro para o território, a partir do olhar da própria comunidade, estruturando seus desejos e construindo caminhos como protagonista dessa história, é muito significativo”, celebra Roberto Vilela, diretor executivo da Tabôa.
Fotos: Acervo Tabôa | Florisval Neto e Simone Amorim
