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Que nem todo mel é igual, disso sabemos. Muito apreciado pela alta gastronomia, o mel produzido pela abelha sem ferrão Uruçu Amarela (Melipona mondury) guarda características únicas: sabor suave, levemente ácido e muito aromático, que se deve à florada da região litorânea da Mata Atlântica, no sul da Bahia, e ao costume dessas abelhas de coletar néctar em árvores de alto dossel.
O potencial de produção dessa espécie é de três quilos de mel por colônia, caso haja condições favoráveis de oferta de alimentos às abelhas. No entanto, para chegar à etapa de produção de mel, é necessário fortalecer o domínio das técnicas de manejo e a composição do pasto melitófilo, como são chamadas as plantas atraentes para abelhas e outros insetos polinizadores, que fornecem néctar ou pólen como fonte de alimentos. Esse é um dos focos das ações promovidas pela Tabôa Fortalecimento Comunitário e IF Baiano - Campus Uruçuca, por meio do projeto Uruçu na Cabruca que, desde 2019, alia geração de benefícios socioambientais e renda no campo.
“O mel de Uruçu Amarela é um produto em expansão comercial, com um valor agregado resultante da sua composição, adoção de manejos e técnicas de beneficiamento adequados, que compensam o custo de produção. Esse mel gera renda, oportuniza pessoas das mais variadas classes sociais e faixa etária e eleva suas condições econômicas e de qualidade de vida”, explica Leia Dias, coordenadora do projeto Uruçu na Cabruca na Tabôa.
Atualmente, são 1.059 colônias manejadas pelas famílias agricultoras participantes. Dessas, 381 foram selecionadas para produção de mel, com previsão de extração para o final de fevereiro, na unidade de beneficiamento estruturada, como parte das ações do projeto, no IF Baiano - Campus Uruçuca. Com isso, inicia-se uma nova etapa que beneficia diretamente as/os meliponiculturas/es mais antigos do projeto que já estão aptas/os a produzir o tão esperado mel de Uruçu Amarela.
Entrando no quarto ano de participação do projeto, Teresa Santiago, meliponicultura e agricultora no Assentamento Dois Riachões (Ibirapitanga, BA), conta, na série de vídeos “Uruçu na Cabruca”, que “na região há o foco no cacau, mas há um olhar para a diversidade para além da cacauicultura. A expectativa é avançar na divisão de colônias para aumentar o meliponário e vender mel”.
No entanto, nem só de produção de mel vivem os/as meliponicultores/as. “A Uruçu Amarela tem o potencial de trazer vários produtos como forma de geração de renda complementar. É uma abelha muito boa na produção de mel, além do pólen, que no caso das abelhas sem ferrão é conhecido como samburá. E tem o geoprópolis, que é o própolis misturado com barro, que tem propriedades medicinais fantásticas, e é conhecido como alimento funcional”, conta Julianna Torres, professora do IF Baiano - Campus Uruçuca e coordenadora do projeto Uruçu na Cabruca.
Meliponicultura e o fortalecimento de comunidades rurais
Presentes nos municípios de Camamu, Ibirapitanga, Ilhéus, Itacaré e Uruçuca, no sul da Bahia, as ações realizadas no âmbito do projeto já alcançaram 17 comunidades rurais na região historicamente conhecida pelo cultivo de cacau sob a sombra de árvores nativas da Mata Atlântica. Apenas em 2024, foram implantados 58 meliponários individuais, além de cinco meliponários coletivos com capacidade total para 300 colônias.
Ao aderir ao projeto Uruçu na Cabruca, o/a meliponicultor/a participa de um curso introdutório, recebe colônias emprestadas e acompanhamento técnico gratuito, a partir do qual aprende a manejar e multiplicar a população dos indivíduos. No escopo do projeto, foram produzidos materiais de orientação como o Guia de Criação de Uruçu Amarela e Websérie Uruçu na Cabruca: Meliponicultura na prática, que auxiliam no aprendizado das/os meliponicultoras/es.
A iniciativa já alcançou 154 meliponicultoras/es e tem como foco mulheres e jovens do campo. É realizada em parceria pela Tabôa Fortalecimento Comunitário e pelo IF Baiano – Campus Uruçuca. E conta com os apoios do Ministério Público do Estado da Bahia, que também participou de sua concepção, e do Instituto humanize.
Fotos: Acervo Tabôa | Analee.
Fotos: Acervo Tabôa | Analee.