Dentre os variados tipos de cultivo manejados no sul da Bahia, o cacau se consagrou como o principal produto agrícola da região, desempenhando importante papel na construção da cultura e dinamização da economia. A disseminação da lavoura cacaueira se deu através de um sistema de cultivo específico denominado cabruca. Graças a esse método tradicional, praticado há mais de 200 anos nos territórios que hoje constituem a Costa do Cacau, o cultivo do Theobroma cacao pôde se desenvolver na região.
Nesse sistema, o cacau é cultivado sob a sombra de árvores nativas da Mata Atlântica. Como o cacaueiro é uma espécie umbrófila - prospera em ambientes sombreados e úmidos - a adaptação da planta ao método foi bem-sucedida. A cabruca mantém o microclima local, o que possibilita bons índices de produtividade.
Devido ao contexto histórico, agricultoras e agricultores da região - especialmente os familiares - utilizam a cabruca como o principal sistema de manejo do cacau. Gabriel Chaves, Gerente do Programa de Desenvolvimento Rural da Tabôa, destaca o quanto a perpetuação do método auxilia na preservação dos ecossistemas locais: “O cacau precisa tanto de luz, quanto de sombra. Ele tem dificuldades de se desenvolver a pleno Sol, exceto quando há um processo de fertirrigação (no qual a lavoura é adubada por meio da irrigação) que, na nossa concepção, saliniza o solo.”
Além disso, Chaves aponta para o potencial agroecológico do cultivo cabruca, pois ele permite o equilíbrio dos sistemas de produção e consumo dos produtos alimentícios. “Se você planta só cacau, é monocultura, e não traz sustentabilidade. A agricultura familiar tem a premissa de plantar, colher, consumir o necessário e comercializar o excedente. Então, [a propriedade rural] precisa de outros insumos, e [os] buscam em outros biomas, outras regiões. O excedente serve para que ela possa adquirir outros cultivos.”
Os frutos colhidos - A Tabôa tem investido em diferentes estratégias para fortalecimento da cultura cacaueira, incluindo a democratização do acesso a crédito e também o acompanhamento técnico para melhoria de processos e produtos. Apenas em 2020, R$ 970 mil reais foram repassados, via CRA Sustentável na Mata Atlântica, para apoiar agricultores que trabalham com cacau, especialmente no sistema cabruca. Os recursos foram concedidos para diferentes ações, como adubação, plantio, enxertagem, clonagem e apoio a agroindústrias que beneficiam derivados do cacau.
Uma das agricultoras atendidas é Tereza Santiago, que vive no Assentamento Dois Riachões, em Ibirapitanga (BA). Seu principal cultivo é o cacau, manejado no sistema cabruca e de forma agroecológica. Ao acessar crédito através do CRA Sustentável na Mata Atlântica, Tereza investiu em melhorias em sua área de cabruca e também num Sistema Agroflorestal (SAF). E já começou a perceber alguns benefícios a partir das melhorias feitas, dentre eles o adensamento de sua área, que aumentou de 500 para 900 pés, contendo espécies frutíferas lenhosas intercaladas com cacau.