Nativa do bioma Mata Atlântica, a abelha Uruçu Amarela (Melipona mondury) possui forte relação com o território, simbolizada, inclusive, pelo nome do município de Uruçuca, assim denominado em homenagem à espécie.
Desde 2019, a Tabôa tem apostado na disseminação da meliponicultura, com foco na Melipona mondury, como estratégia de fortalecimento de comunidades rurais e proteção da biodiversidade local. O projeto Uruçu na Cabruca, realizado em parceria com o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia (IF Baiano) – Campus Uruçuca, já alcançou 109 famílias agricultoras, grande parte destas residentes em assentamentos de reforma agrária. A iniciativa conta com o apoio do Ministério Público da Bahia - que também participou de sua concepção, do Instituto humanize e Instituto Arapyaú.
O projeto, atualmente, atende 85 agricultores(as), que recebem capacitação e acompanhamento técnico para manusear corretamente as colônias. “Apesar de as abelhas nativas já existirem na vida dos agricultores há muito tempo, não havia um conhecimento técnico, uma prática de manejo. O acompanhamento técnico vem como uma forma de garantir que a estratégia será implementada da forma correta, além de promover a multiplicação dessa espécie na natureza”, explica Gabriel Chaves, gerente do Programa de Desenvolvimento Rural da Tabôa.
Aliando facilidade de manejo, proteção da biodiversidade e oportunidade de geração de renda, especialmente para jovens e mulheres de famílias agricultoras de assentamentos de reforma agrária, o projeto tem focado, nessa primeira etapa, em estratégias de disseminação de conhecimento sobre as abelhas nativas para as comunidades e na criação e preservação dos enxames. As ações contemplam também capacitações em meliponicultura, atividades de educação ambiental - que já alcançaram 392 pessoas - e a produção de uma série de vídeos e de um guia de Meliponicultura, que podem ser acessados no canal do Youtube e no site da Tabôa, respectivamente.Além disso, investiu-se na implantação de duas unidades demonstrativas – uma nas instalações do IF Baiano, na sede do município de Uruçuca, e outra na sede da Tabôa, no distrito de Serra Grande – que funcionam como espaço de multiplicação de colônias e compartilhamento de conhecimentos sobre a prática da meliponicultura e a importância da conservação das abelhas nativas.
“Nesse primeiro momento, um dos principais ganhos foi a geração de patrimônio. Cada colônia custa de R$ 600,00 a R$ 900,00. A estratégia do projeto é chegar a 15 caixas por agricultor participante. Uma família que recebeu um empréstimo de duas colônias, um ano e meio ou dois anos depois, tem 10 colônias. Isso impacta na produção de mel ou mesmo no ganho na comercialização das colmeias”, comenta Gabriel.
Fortalecendo a conservação produtiva
A prática da meliponicultura é um circuito de retroalimentação: as abelhas precisam da mata e a mata precisa das abelhas. Com o manejo dos enxames acontecendo de maneira correta, o resultado é a geração de renda complementar, mesmo em áreas de proteção permanente (APP), pois a produção não altera a paisagem.
“As abelhas são os mais importantes polinizadores do mundo, sendo assim, quando se fomenta a criação desses animais em um bioma, você tem, naturalmente, mais flores, mais frutos, e a flora beneficiando a fauna”, explica Julianna Torres, professora do IF Baiano - Campus Uruçuca. Ao longo dessa primeira etapa do projeto, ela aponta que o acompanhamento técnico tem sido a chave para o sucesso: “o produtor no campo, com dúvidas, insegurança, sem ter quem segure sua mão nesse primeiro momento, poderia desistir da prática”, complementa.
Cada agricultor(a), ao entrar no projeto, passa por um curso de dois dias, teórico e prático e, como um diferencial do projeto, ele(a) recebe emprestadas duas caixas, que depois de serem multiplicadas são devolvidas para que novos meliponicultores entrem no projeto. Com o acompanhamento técnico mensal e a facilidade do manejo, espera-se que o(a) participante, depois de um ano, tenha autonomia em relação à prática. Desde o início das ações, 491 colônias já foram manejadas.
Acompanhado os meliponicultores no dia a dia, a consultora técnica da Tabôa, Nádia Oliveira, explica que qualquer pessoa pode criar as abelhas sem ferrão, mas que a prática requer o estudo do tripé básico: manejo, bioma, espécies de ocorrência. “Tendo isso, e com a ajuda de alguém que já atue na área, é fácil iniciar a atividade. Para a produção de mel é necessário primeiro conhecer o mercado para o qual pretende escoar os produtos, conhecer o manejo produtivo e realizar o enriquecimento das áreas no entorno do meliponário, para que as abelhas tenham acesso amplo à fonte de produção do néctar durante o maior tempo possível, inclusive no inverno”, esclarece.
Com propriedades medicinais e um sabor singular, muito apreciado na gastronomia, o mel de Uruçu Amarela gera mais renda para os produtores à medida que eles têm mais caixas produzindo, uma vez que cada colônia produz, aproximadamente, 3 kg de mel por ano, gerando 300 reais por quilo. A expectativa é que no fim 2023, as famílias acompanhadas iniciem a próxima etapa do projeto, que é o processo de produção de mel, buscando aquecer o mercado para o produto e seus derivados.
Foto: Acervo Tabôa | Analee.
Fotos: Acervo Tabôa | Analee