O caminho é comunitário. Esta foi uma das mensagens-chave disseminadas durante a Feira de Iniciativas Comunitárias, que tomou conta da Praça Pedro Gomes, em Serra Grande (Uruçuca, Bahia), no dia 23 de setembro. O evento reuniu estandes de 19 coletivos e organizações comunitárias que atuam com causas socioambientais no território, além de rodas de conversa sobre filantropia comunitária e apresentações artísticas.
Promovida pela Tabôa Fortalecimento Comunitário, em colaboração com iniciativas locais, a Feira integrou a programação do Mês da Filantropia que Transforma, um movimento criado pela Rede Comuá, da qual a Tabôa faz parte, com o objetivo de debater, visibilizar e fomentar práticas de filantropia comunitária e de justiça socioambiental e suas contribuições para a transformação social, acesso a direitos e fortalecimento da sociedade civil.
“A Feira veio também para reconhecer um ambiente colaborativo que já existe em Serra Grande há muito tempo. A vila é um celeiro de boas ideias e bons projetos e de lideranças que fazem as coisas acontecerem. Para potencializar as causas socioambientais com as quais as iniciativas atuam, buscamos abrir o diálogo sobre uma filantropia que faça sentido para esses projetos”, conta o gerente do Programa de Desenvolvimento Territorial de Serra Grande e Entorno, da Tabôa, Robson Bitencourt.
A Feira responde a uma demanda de ampliação da visibilidade do trabalho realizado pelos coletivos, organizações, projetos e movimentos comunitários, que expressaram essa necessidade durante escuta realizada pela Tabôa, que resultou no Diagnóstico de Iniciativas Comunitárias em Serra Grande. O documento traz um levantamento de informações sobre 19 iniciativas comunitárias que atuam no território, com dados sobre causas de atuação, necessidades e demandas para seu fortalecimento institucional.
Filantropia comunitária na roda
O público presente foi provocado pelos relatos trazidos durante as duas rodas de conversa que integraram a programação do evento. A partir da discussão dos temas “Filantropia feita pela, com e para a comunidade: como a filantropia tem sido praticada pela comunidade de Serra Grande?” e “Filantropia comunitária e de justiça socioambiental: do que estamos falando? Como a comunidade pode incidir nesse campo?”, foram compartilhadas experiências que se conectam com a cultura de solidariedade, colaboração e doação já existente no território, e também discutida a importância de fortalecer práticas filantrópicas que promovam o fortalecimento da sociedade civil.
Aos 75 anos, nascida e criada em Serra Grande, a professora aposentada, Maria Regina Santos, mais conhecida como Dona Regina, viu nascer a Associação dos Pequenos Agricultores de Serra Grande, a primeira do local, e que foi criada para defender a terra. Ela remontou à época em que a solidariedade garantia mesa cheia das poucas famílias existentes no local. “Tínhamos tudo para comer, muito peixe, caça. Todos faziam farinha, que não era vendida, mas sim partilhada com todos. Tínhamos porcos e galinhas. Não havia dinheiro ou conforto, mas todos estavam de barriga cheia”, contou.
Representante do Coletivo Mães Solidárias, Mara Campos narrou como surgiu o grupo de mulheres que trabalha com ações comunitárias voltadas para segurança alimentar, saúde e educação. “Para podermos gerar recursos e realizar as nossas ações, a comunidade tem a oportunidade de participar dos festivais de torta e brechós solidários que realizamos. Não inventamos a roda, mas fizemos outras pessoas verem que ela já existia e que poderiam fazer uso dela.”
A Associação Cultural Circo da Lua, iniciativa socioeducativa que busca promover autonomia, autoestima e consciência cidadã para crianças, adolescentes e jovens, celebrou no evento o crescimento de sua equipe e a realização de um sonho: “Muitos que foram nossos alunos hoje são professores. Começamos com duas pessoas ensinando e hoje são 17 pessoas que fazem parte da equipe.”
Celebrando 11 anos de existência, a iniciativa Serrana Esporte Clube apresentou orgulhosamente, em seu estande, inúmeras medalhas e troféus conquistados. São 147 participações dos atletas serranos em competições e dezenas de vitórias que levam o nome de Serra Grande para outras cidades do Brasil e do mundo. Além do apoio a atletas, o grupo realiza treinos que estimulam crianças e jovens a praticarem esportes. “Estamos aqui compartilhando um pouco da construção da nossa trajetória e dizer que o esporte pode fazer essa integração social”, relatou o atleta Tiago Araújo, que aproveitou a oportunidade para falar sobre as inscrições solidárias, uma forma da comunidade apoiar jovens atletas para participarem dos treinos.
Ao percorrer o corredor de estandes, o público pôde conhecer os trabalhos da Associação de Moradores do Bairro Novo (Asmoban), Gente do Conduru, Feira Comunitária Saberes e Sabores, Hortinha de todos os sonhos, Biblioteca Comunitária, Serrana Esporte Clube, Coletivo de Mulheres Mães Solidárias, Coletivo de Mulheres CriAtivas, Guilda Anansi, Circo da Lua, Associação de Produtores Rurais, Irmandade, Serra Cria, Espaço Training, Handebol Feminino e Funcional, Amigos do Pedal, Maloca Dendé, SBC Capoeira e Resíduo não é lixo.
Ao percorrer o corredor de estandes, o público pôde conhecer os trabalhos da Associação de Moradores do Bairro Novo (Asmoban), Gente do Conduru, Feira Comunitária Saberes e Sabores, Hortinha de todos os sonhos, Biblioteca Comunitária, Serrana Esporte Clube, Coletivo de Mulheres Mães Solidárias, Coletivo de Mulheres CriAtivas, Guilda Anansi, Circo da Lua, Associação de Produtores Rurais, Irmandade, Serra Cria, Espaço Training, Handebol Feminino e Funcional, Amigos do Pedal, Maloca Dendé, SBC Capoeira e Resíduo não é lixo.
O evento contou ainda com os shows de Snep’, jovem rapper e integrante do Coletivo Serra Cria, que atua no fortalecimento das juventudes por meio da arte e cultura, e também do coletivo Guilda Anansi, que costurou todo o evento com performances artísticas.
Fortalecendo a filantropia que transforma
Fortalecer a comunidade como protagonista de mudanças positivas no território tem sido uma das frentes prioritárias de atuação da Tabôa, por meio da disseminação de conhecimentos, atividades formativas e assessoria técnica, além da facilitação do acesso a recursos financeiros e fomento ao voluntariado. De 2015 a 2022, a Tabôa apoiou 101 iniciativas comunitárias nos territórios em que atua, por meio de doações diretas e indiretas. Nesse mesmo período, foram R$ 2,4 milhões doados para coletivos, organizações e grupos que atuam com desenvolvimento comunitário.
“A Tabôa faz parte de um movimento nacional, articulado no âmbito da Rede Comuá, que trabalha por uma filantropia comunitária e de justiça socioambiental. Entendemos que, ao fortalecer as lutas e pautas de coletivos e organizações comunitárias, a filantropia feita a partir dos territórios pode contribuir para fortalecer direitos e reduzir desigualdades. É nessa filantropia que a gente acredita e é essa agenda que queremos fortalecer”, comenta Simone Amorim, gerente de comunicação da Tabôa.
Fotos: Tabôa | Florisval Neto
Fotos: Tabôa | Florisval Neto