A criação racional de abelhas sem ferrão - prática denominada de meliponicultura - e os seus benefícios socioambientais foram destaques no I Encontro Uruçu na Cabruca, que reuniu quase 300 participantes, entre meliponicultores(as), estudantes e pesquisadores(as) da área. O evento aconteceu no Dia Nacional da Abelha (03|10), no IF Baiano - Campus Uruçuca, município que leva o nome em homenagem à espécie nativa do local, a Uruçu Amarela (Melipona mondury).
O encontro foi realizado pela Tabôa Fortalecimento Comunitário, IF Baiano – Campus Uruçuca, Ministério Público do Estado da Bahia e Sebrae, com apoio do Instituto humanize, e integra as ações do projeto Uruçu na Cabruca. “A estratégia do projeto visa aumentar o número de colônias na natureza e aliar os benefícios ambientais à produção de mel, contribuindo para o aumento de renda das famílias envolvidas”, explica Gabriel Chaves, gerente do Programa de Desenvolvimento Rural da Tabôa. “Ao reunir no mesmo lugar diferentes públicos, o evento buscou chamar atenção para a meliponicultura e mostrar que tem agricultores familiares produzindo mel e que também há pesquisadores(as) e estudantes se dedicando a isso a essa prática, que é tão promissora em nossa região”, destaca.
Na mesa de abertura, representantes das organizações realizadoras e apoiadores do evento marcaram presença: João Victor da Silva Santos, diretor acadêmico do IF Baiano, representando a direção geral do Instituto; Julianna Torres, responsável pelo setor de meliponicultura do IF Baiano e integrante da equipe de coordenação do projeto Uruçu na Cabruca; Claudiana Figueiredo, coordenadora regional do Sebrae – Ilhéus; Laura Bollick, especialista da área programática do Instituto humanize; e Gabriel Chaves, gerente do Programa de Desenvolvimento Rural da Tabôa. A mesa contou ainda com a participação de Ailana Reis, agricultora familiar do Assentamento Nova Vitória, em Ilhéus, que é agricultora acompanhada pela iniciativa.
Julianna Torres, do IF Baiano, destacou a importância do encontro como espaço de troca de saberes entre o(a) agricultor(a) e a academia. “Foi muito gratificante ver os olhos brilhando dos agricultores, especialmente aqueles que começaram há um tempo e que já geraram frutos a partir do aprendizado”.
Julianna Torres, do IF Baiano, destacou a importância do encontro como espaço de troca de saberes entre o(a) agricultor(a) e a academia. “Foi muito gratificante ver os olhos brilhando dos agricultores, especialmente aqueles que começaram há um tempo e que já geraram frutos a partir do aprendizado”.
Na prática do dia a dia, a agricultora Ailana Reis reforça a facilidade de manejo das abelhas. “Não leva muito tempo para cuidar delas, apenas algumas horas por semana”, conta. Ela ressalta que o evento foi uma demanda dos(as) meliponicultores(as) acompanhados(as) pelo projeto. “A gente queria trocar conhecimento com outros agricultores que estavam produzindo, como era o andamento das colônias em outros meliponários, ouvir especialistas na área e tirar dúvidas. Esse Encontro era mais que necessário”, pontua.
Os importantes serviços ecossistêmicos prestados pelas abelhas, como a polinização de plantas de diferentes gêneros e espécies, além de protegerem a biodiversidade, contribuem para a segurança alimentar das populações. “Apoiar a meliponicultura é uma forma de melhorar a qualidade de vida das comunidades envolvidas”, ressalta Claudiana Figueiredo, coordenadora regional do Sebrae.
Disseminação de conhecimentos sobre meliponicultura
No painel temático “Meliponicultura: importância socioambiental e desafios para o seu fortalecimento”, especialistas destacaram o grande potencial da prática para a agricultura familiar no bioma Mata Atlântica. Isabel Modercin, bióloga e idealizadora da Escola de Meliponicultura, ressaltou o papel do pequeno produtor na produção do mel de Uruçu. “Essa atividade precisa do pequeno produtor, da agrofloresta, da agroecologia e da agricultura familiar. Então, essa região tem a faca, o queijo e o mel na mão”, comentou.
Além do painel, o Encontro contou com cinco oficinas, promovendo o compartilhamento de conhecimentos entre meliponicultores(as) e especialistas. Os temas incluíram construção de caixas de abelhas; avaliação e seleção de genótipos das colônias para produção de mel; manejo de multiplicação e transferência de colônias; produtos de abelhas e pratos à base de mel. “O evento trouxe conteúdos didáticos facilmente compreensíveis para diversos públicos interessados em entender mais sobre meliponicultura, seja para quem começou agora ou para quem já está na prática há um tempo”, comenta a consultora do projeto, Nádia Oliveira, que atua no campo realizando o acompanhamento técnico de agricultores(as) atendidos pelo Uruçu na Cabruca.
Facilitadora da oficina de produtos à base de mel, Generosa Sousa, professora da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (Uesb), abordou os produtos diretos e indiretos da meliponicultura e as potencialidades de comercialização. “A oficina também buscou melhorar o aprendizado dos meliponicultores sobre a maturação de mel, um dos produtos nobres da colônia, e como estabilizar o mel da abelha sem ferrão, que tem características peculiares, pois é mais umidificado”, complementou. Participante da atividade, a jovem Joana Carvalho, meliponicultura de 23 anos, agricultora no Assentamento Nova Vitória (Ilhéu, BA), comemora o aprendizado: “É a primeira vez que estou aqui no IF Baiano - Campus Uruçuca e estou muito feliz em conhecer várias pessoas que também realizam a meliponicultura. Neste evento, destaco o aprendizado sobre o processo de maturação do mel de Uruçu e todas as etapas para serem realizadas antes da comercialização”.
Comemorando o terceiro ano no projeto, Teresa Santiago, meliponicultura e agricultora no Assentamento Dois Riachões (Ibirapitanga, BA), conta que o evento foi uma oportunidade de aprender sobre diversos aspectos da prática da criação da abelha sem ferrão. “Percebi no Encontro o quanto as pessoas querem trabalhar com as abelhas nativas, pois antes se falava muito nas Apis, que são as abelhas com ferrão. A expectativa agora é avançar na divisão de enxames, pois quero aumentar meu meliponário para poder começar a vender mel em 2024”, comemora.
Para Thainá Botelho, estudante do curso de Agroecologia do IF Baiano - Campus Uruçuca e monitora no evento, atuar com meliponicultura é aprender todos os dias. “Essa é uma área que eu me interesso bastante, estou fazendo vários cursos, tenho vontade de trabalhar como técnica em extensão rural, pois faz bastante diferença na vida das pessoas. Além disso, com a criação de abelhas, o foco é a preservação, devido ao papel delas para o nosso ecossistema”, comenta.
Uruçu na Cabruca: ensinando e aprendendo
A criação da Uruçu Amarela gera oportunidade de ampliar a renda, especialmente para jovens e mulheres de famílias agricultoras de assentamentos de reforma agrária. Por isso, além de especialistas no tema, o evento contou com duas meliponicultoras acompanhadas pelo projeto que estiveram entre os(as) oficineiros(as) compartilhando o conhecimento adquirido na prática do dia a dia.
Luciana Dias e Tailane de Jesus, agricultoras no Assentamento Rochedo (Uruçuca, BA) foram facilitadoras da oficina de construção de caixas para criação das abelhas. “A oficina foi maravilhosa, lotada, os participantes tiraram dúvidas sobre como eles mesmos podem fazer a caixa com materiais que já têm na roça”, conta Luciana, que criou uma microempresa de marcenaria junto com Tailane, que é marceneira, e tornou a atividade uma das principais rendas atuais da família. As caixas produzidas por elas são comercializadas para participantes do projeto e outros meliponicultores(as) da região.
Elismara de Oliveira, agricultora no Assentamento Dois Riachões (Ibirapitanga, BA), ministrou a oficina de pratos à base de mel e mostrou como o produto pode ser um rico aliado na cozinha. “A nossa intenção é fortalecer a soberania alimentar e nutricional, casando isso com a preservação do meio ambiente, a nossa cabruca. Comer o que a gente pode plantar e produzir é muito gratificante, costumo dizer que comer é um ato de liberdade. E o mel de Uruçu a gente vê sendo usado nos programas de culinária ou em grandes restaurantes, mas a gente que produz, pode colocar na nossa comida. Podemos usar na salada, na fruta, na granola, em algumas carnes, o que vai te dar um prato saudável, além de autonomia financeira”, conta.
Sobre o projeto Uruçu na Cabruca - O projeto Uruçu na Cabruca fomenta a prática da meliponicultura no contexto da agricultura familiar no Sul da Bahia, região historicamente conhecida pelo cultivo de cacau no sistema cabruca, sob a sombra de árvores nativas da Mata Atlântica. É assim que a cabruca e a meliponicultura somam forças na proteção da agrobiodiversidade, na preservação da abelha nativa Melipona mondury e no fortalecimento de comunidades rurais. Desde 2019, quando o projeto foi iniciado, 120 famílias já foram alcançadas em cinco municípios baianos - Camamu, Ibirapitanga, Ilhéus, Itacaré e Uruçuca.
A iniciativa é realizada em parceria pela Tabôa Fortalecimento Comunitário e pelo IF Baiano – Campus Uruçuca. E conta com os apoios do Ministério Público do Estado da Bahia, que também participou de sua concepção, e do Instituto humanize.