
Criar, preparar, divulgar, vender e gerir são verbos que fazem parte da rotina de empreendedoras/es e, muitas vezes, são atividades realizadas pela mesma pessoa que gera o serviço ou produto. Para além dos desafios diários de manter o negócio funcionando, quem empreende em Serra Grande e entorno, no sul da Bahia, também se depara com questões que envolvem o contexto do território. Para refletir sobre isso, a primeira Prosa Comunitária do ano reuniu quem já atua há mais tempo e quem está iniciando no mundo do empreendedorismo. O encontro aconteceu no dia 19 de fevereiro, na Casa Cais.
A Prosa atraiu empreendedoras/es individuais e/ou participantes de redes. Ao longo da roda de conversa se destacaram reflexões sobre a importância de diferentes formas de apoio para potencializar os negócios locais, como mentorias, e também de maior colaboração e troca de experiências entre empreendedoras/es comunitárias/os.
Para a empreendedora Maria Lúcia, integrante do coletivo Mulheres CriAtivas, a formação dessa rede foi um impulso nos negócios. “Já trabalho na área de gastronomia, hoje empreendo com comida vegana, pois vi que essa população estava crescendo, mas também faço outros pratos. Depois que passei a fazer parte de um coletivo, isso me ajudou demais, pois a gente troca conhecimento sobre como embalar melhor os produtos, como vender, como divulgar. Quando a gente faz parte dessa corrente, o negócio ganha força”, compartilhou.
O coletivo, composto atualmente por 12 empreendedoras, enriqueceu a partilha sobre empreender em rede na perspectiva da economia solidária. Elas trabalham com gastronomia e artesanato e se orientam na cooperação e na solidariedade para contribuir na geração de trabalho e renda. O grupo foi criado em 2021 e reativado em 2024. Desde então, a Tabôa tem apoiado o fortalecimento do coletivo com recursos financeiros, logística, compartilhamento de conhecimentos, espaço para reuniões e equipamentos. A partir do apoio, elas puderam estruturar a Loja Colaborativa da Economia Solidária e confeccionar camisas e banners para levarem seus produtos para eventos, a exemplo do Sarau Serra Viva.

Já a experiência da jovem Laís Calixto, que empreende há oito anos no Beco Burguer, trouxe a adesão ao delivery como uma oportunidade que surgiu no desafio da pandemia. “Antes era fraco esse movimento de entrega, porque as pessoas entendiam que não valia a pena pagar por isso aqui na vila. Hoje, temos essa demanda, o que fez termos também a colaboração de entregadores”, contou. Em uma fase mais madura dos negócios, Laís avaliou que pode melhorar os processos de gestão, já que conta com seis colaboradoras/es.
Estudante da Escola Dendê da Serra, onde são promovidas aulas de empreendedorismo, Brenda Larissa, de 16 anos, contou que o empreendedorismo faz parte de sua vida desde cedo, quando precisou vender produtos diversos para ajudar na renda da família. “Hoje vendo brigadeiro e bolo de pote na praia para ter meu próprio recurso. Tem dias que ganhamos só o que investimos, tem dia que ganhamos mais. Precisamos ter controle e persistir”, partilhou.
A Prosa Comunitária é uma iniciativa da Tabôa e busca debater temas de interesse da comunidade para promover o diálogo e o fortalecimento comunitário.
Fortalecendo o empreendedorismo comunitário
Como parte do trabalho de fortalecimento territorial, a Tabôa apoia o empreendedorismo comunitário como um caminho para a dinamização da economia do território e o protagonismo comunitário.
“Acreditamos que quando a comunidade tem acesso a oportunidades de empreendedorismo, um ciclo positivo de geração de renda, valorização da cultura local e fortalecimento das redes de apoio é criado e fortalecido. Além disso, o empreendedorismo comunitário estimula a inovação e contribui para a construção de um território mais resiliente”, avalia Luzimar Del Rei, coordenadora do Programa de Desenvolvimento Territorial da Tabôa, que mediou a Prosa.
Entre as atividades voltadas para quem empreende no território, são realizadas mentorias, cursos e consultorias, além de articulação e cooperação entre empreendedoras/es locais, a exemplo do apoio à criação de um grupo de economia solidária. Ainda, foi firmada uma parceria com o Banco do Nordeste, que executa o programa Crediamigo, para facilitar o acesso a microcrédito a empreendedoras/es comunitárias/os.

Fotos: Acervo Tabôa | Florisval Neto.