
A meliponicultora, Teresa Santiago, do Assentamento Dois Riachões (Ibirapitanga-BA), é uma das agricultoras que já iniciou a colheita de mel. “Estou muito animada com a produção do mel! Hoje é um dia muito especial, não só para mim, mas para o meu grupo do assentamento, pois reforça a possibilidade de fazer a colheita, mesmo depois dos desafios do processo de criação das abelhas. Esse momento é um fechamento de ciclo”, conta Teresa, que participa há quatro anos do projeto e hoje tem 43 colônias, sendo 22 já produzindo mel.

A etapa de produção de mel é precedida por um caminho de aprendizados individuais e coletivos. Ao ingressarem no projeto, agricultoras e agricultores familiares participam de um curso introdutório de meliponicultura, recebem emprestadas as primeiras colônias para iniciarem seus meliponários e passam a contar com acompanhamento técnico especializado para fortalecerem suas capacidades e autonomias no manejo e multiplicação das abelhas nativas. Como resultado desse apoio, atualmente, 1.059 colônias de Uruçu Amarela já estão sendo manejadas no âmbito da iniciativa, que é realizada pela Tabôa Fortalecimento Comunitário e pelo IF Baiano – Campus Uruçuca, com apoios do Ministério Público do Estado da Bahia e do Instituto humanize.

Presente ao longo da primeira semana de colheita da safra 2025, Laura Bollick, especialista em Sustentabilidade do Instituto humanize, destacou a relevância desse momento. “Essa é uma etapa muito importante para o projeto, é a celebração dos resultados de vários anos de trabalho, é o fechamento de um ciclo. Para nós do Instituto humanize, como apoiadores, é o momento de celebrar, ainda mais com a participação também dos meliponicultores. Para a gente, é um marco na história do projeto Uruçu na Cabruca”, compartilha.

A professora do IF Baiano e coordenadora do projeto na instituição, Juliana Torres, avalia a colheita como um resultado das ações realizadas desde 2019. “O objetivo do projeto era que as comunidades aprendessem a criar as abelhas, e, a partir desse aprendizado, fizessem o manejo para a produção. Todo esse manejo que foi trabalhado desde o início do projeto era visando que as abelhas conseguissem produzir mel daqui da mata da nossa região, e esse mel servisse com uma fonte de renda para as comunidades. Então, o momento tão esperado desde que o projeto foi sonhado e idealizado, se torna realidade, vendo melgueiras chegarem das comunidades trazendo os potes com mel, e a gente fazendo a retirada desse mel das melgueiras de cada um dos agricultores do projeto”, explica.
Mel da cabruca
Cada caixa de abelha selecionada para produção de mel pode receber melgueiras com capacidade de até 1,5kg, ou o “melgueirão”, que pode comportar até três vezes mais mel. As melgueiras cujo mel foi extraído voltam para os meliponários, para que sejam preparadas para a próxima safra. A colheita da safra 2025 segue até o fim de março.

Jerônimo Villas-Bôas, consultor técnico do projeto, tem contribuído na orientação sobre os procedimentos para estruturação da unidade de beneficiamento e preparação da equipe para a extração do mel. Ele destaca que a cabruca oferece uma condição diferenciada em relação a outras regiões do Brasil, em termos de cobertura florestal da Mata Atlântica. “Investir na meliponicultura é uma oportunidade, pois aqui tem a presença da Uruçu Amarela que é uma espécie produtiva e nativa da região, e, ao mesmo tempo, esse grupo de agricultores e assentamentos mobilizados. A região já investe na agroecologia, fruticultura, outras atividades de renda e a meliponicultura cai como uma luva nesse sistema, porque demanda esforços que não concorrem com o calendário das atividades de manejo do cacau. Então, ela é um complemento para os agricultores”, avalia.
Desde 2019, o projeto já alcançou 154 agricultoras/es nos municípios de Camamu, Ibirapitanga, Ilhéus, Itacaré e Uruçuca, sendo a maioria assentadas/os de reforma agrária, com destaque para a participação de mulheres e jovens.
Com o aumento das colônias a partir dos resultados do projeto, em consequência, são ampliados importantes serviços ecossistêmicos prestados pelas abelhas, como a polinização de plantas de diferentes gêneros e espécies, que além de protegerem a biodiversidade, contribuem para a segurança alimentar das populações da região.
Fotos: Acervo Tabôa | Florisval Neto.