É dia de visita na unidade produtiva: a chegada do/a técnico/a, não raro, é seguida de um cafezinho com a família agricultora, enquanto conversam sobre os resultados e as aplicações das práticas que foram orientadas nas visitas anteriores. Dali, o rumo é o campo, onde ocorrem avaliações, novas orientações e, também, troca de experiências e saberes.
No dia a dia da Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER) para a agricultura familiar, busca-se contribuir para a adoção de práticas ambientalmente positivas e eficientes que reverberem na produção, beneficiamento, gestão, comercialização, e, ao mesmo tempo, facilitem o acesso a políticas públicas. A importância desse trabalho é tão significativa que a Lei nº 12.188/2010 institui a Política Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural para a Agricultura Familiar e Reforma Agrária. Mas o amplo acesso à ATER ainda é um desafio para muitas/os agricultoras/es.
No intuito de somar forças para que esse serviço chegue a cada vez mais famílias, uma iniciativa que alia crédito e ATER gratuita tem alcançado centenas de agricultoras/es em territórios rurais baianos. Criada pela Tabôa Fortalecimento Comunitário, a metodologia se diferencia por possuir processos mais acessíveis e simplificados - nos quais o plano de investimento é construído junto com o/a agricultor/a.
“Aqui na Tabôa substituímos a palavra assistência por acompanhamento. É uma forma dos profissionais apoiarem os agricultores com um olhar mais amplo, considerando a propriedade como um todo”, explica Gabriel Chaves, gerente do Programa de Desenvolvimento Rural da Tabôa.
A metodologia institucional tem foco na transição agroecológica, com práticas ambientalmente positivas e de baixo custo, que utilizam os recursos naturais existentes na propriedade. Além disso, com o objetivo de fortalecer comunidades, a política de desenvolvimento rural da Tabôa estimula a troca de conhecimento e experiência entre agricultores, tendo o técnico rural um papel de facilitador dessa dinâmica.
Em 2023, 287 agricultoras/es - entre convencionais, agroecológicos e em transição - contaram com acompanhamento da Tabôa, para incremento de suas unidades produtivas. Com esse apoio, a ideia é que o/a agricultor/a fortaleça sua autonomia. “Controlar doenças nas plantações, corrigir o solo por meio da observação do tipo de vegetação que indica eficiência ou deficiência nutricional do solo e das plantas, são aprendizados que culminam numa melhoria de produção e em um produto de melhor qualidade, com maior valorização no mercado, contribuindo para o aumento de renda das famílias”, observa Gabriel.
De agricultor/a para agricultor/a: ATER que fortalece a cabruca
Na agricultura agroecológica, o compartilhamento de conhecimento entre agricultoras/es é de fundamental importância para o fortalecimento das práticas nas comunidades. Adotando essa premissa, Gabriel explica: “os nossos técnicos também são agricultores, são filhas e filhos de agricultores familiares, e isso facilita a troca no campo, porque eles entendem como podem contribuir para cada caso e cada agricultor”.
Na região sul da Bahia, a Tabôa atua estimulando a diversificação das culturas, potencializando a cacauicultura, especialmente, no sistema cabruca - em que o cacau na Mata Atlântica é cultivado com a floresta em pé. Também é encorajada a implantação de Sistemas Agroflorestais, áreas onde são plantados diversos cultivos de ciclos diferentes, de forma planejada, permitindo colheita o ano inteiro. Com isso, a família agricultora consegue promover maior segurança e soberania alimentar e nutricional, além de gerar renda com a comercialização do excedente.
Adevandro Silva, agricultor agroecológico e técnico de campo que atua na Muká Plataforma Agroecológica - iniciativa correalizada pela Tabôa e pela Rede de Agroecologia Povos da Mata - destaca a importância do acompanhamento ser gratuito: “isso facilita o acesso para o agricultor que não pode pagar e oportuniza a criação de uma relação de confiança entre o profissional e o agricultor”, comenta.
“Quando a gente começa a fazer as práticas agroecológicas, os custos diminuem. No dia a dia, a metodologia consiste na aplicação das práticas no manejo integrado do cacau: poda, roçagem, aplicação de biocalda, uso do pó de rocha, uso dos microrganismos eficientes, manejo do casqueiro, diversificação com frutíferas e nativas para ampliar a diversidade e evitar doenças e pragasTambém visamos estimular o beneficiamento e a comercialização do cacau de qualidade, que agrega valor e gera mais renda, e a gerar produtos derivados do cacau”, conta Adevandro.
Outra estratégia de alto potencial socioambiental, adotada pela Tabôa, é o fomento à meliponicultura por meio do projeto Uruçu na Cabruca. A criação racional de abelhas sem ferrão, em especial a Melipona mondury, visa ao fortalecimento de comunidades rurais, agregando à geração de renda das famílias e contribuindo para proteger a biodiversidade e ampliar produtividade por meio da polinização. A iniciativa é realizada em parceria pela Tabôa Fortalecimento Comunitário e pelo IF Baiano – Campus Uruçuca, e conta com os apoios do Ministério Público do Estado da Bahia, que também participou de sua concepção, e do Instituto humanize.
Desde 2019, o projeto já alcançou mais de 120 famílias e o acompanhamento técnico tem sido um dos grandes responsáveis pelo sucesso da iniciativa. “Assim como em toda atividade de criação racional animal, o manejo requer técnicas que são aplicadas ao longo do processo produtivo. Na meliponicultura, a orientação técnica contribui para a manutenção da saúde e vida das colônias, uma vez que oferece suporte necessário aos meliponicultores, levando orientações e soluções aos desafios intrínsecos ao manejo, viabilizando a produção por caminhos que respeitam a dinâmica ecológica e biológica das abelhas, sem comprometer o resultado desejado”, conta Léia Dias, coordenadora do projeto Uruçu na Cabruca.
Fotos: Acervo Tabôa | Analee.
Fotos: Acervo Tabôa | Analee.