As primeiras das 325 colônias que serão preparadas para a produção de mel de uruçu amarela (da abelha nativa Melipona mondury), criadas por meliponicultores/as participantes do projeto Uruçu na Cabruca, começaram a ser remanejadas do modelo coletivo para o modelo individual em piquetes. Realocadas para locais mais adequados para as abelhas realizarem os seus serviços ecossistêmicos e melhor se alimentarem, a previsão é de que em janeiro de 2025 elas estejam produzindo o apreciado mel da espécie.
Essa etapa do projeto foi iniciada no Assentamento Nova Vitória (Ilhéus, Bahia), na primeira quinzena de agosto, onde as/os meliponicultoras/es receberam também orientações sobre manejo de inverno e identificação do plantel produtivo de suas colônias.
Os meliponários estão sendo implantados em áreas que seguem algumas estratégias, como proximidade a áreas de reserva legal das comunidades e a áreas de plantio, que oferecem recursos alimentares limpos às abelhas e aumentam o potencial produtivo de mel. Isso contribui para um dos principais serviços ecossistêmicos prestados pelas abelhas: a polinização, que aumenta a taxa produtiva agrícola e de restauração florestal das reservas. Além disso, é considerada a distância de fontes contaminantes como galinheiros e casas de farinha, que podem trazer prejuízos para qualidade do mel e pólen produzidos.
O projeto, atualmente, acompanha 94 meliponicultoras/es, que manejam um total de 578 colônias. Léia Dias, coordenadora do projeto Uruçu na Cabruca na Tabôa explica que “para a produção de mel de uruçu amarela, é necessário cumprir algumas etapas importantes, como o manejo de inverno para fortalecimento das colônias no período de baixa florada; seleção e identificação das colônias com aptidão para produção de mel; adição de melgueiras no grupo direcionado para produção e, por fim, a colheita da safra, que pode acontecer em vários períodos de floradas durante a primavera/verão.”
A meliponicultura tem crescido no Brasil e possui grande potencial de mercado, demandando pouca mão de obra e baixo investimento. A partir dela, são gerados diversos produtos como mel, própolis e samburá - como é conhecido o pólen, no caso das abelhas sem ferrão. O valor ambiental das abelhas também é um destaque, pois desempenham funções essenciais na proteção e restauração de ecossistemas locais, por meio da polinização de plantas nativas e cultivares agrícolas.
"A meliponicultura fortalece a polinização e a biodiversidade, promove a produção de mel de alta qualidade e outros produtos derivados e impulsiona o desenvolvimento econômico sustentável, a preservação cultural e a conservação da espécie. É um exemplo de como práticas sustentáveis podem gerar impactos positivos simultaneamente para a economia local, a preservação da biodiversidade e o fortalecimento das tradições culturais", explica o gerente do Programa de Bioeconomia e Sustentabilidade da Tabôa, Felipe Humberto.
Sobre o projeto Uruçu na Cabruca - Desde 2019, a iniciativa busca fomentar a prática da meliponicultura no contexto da agricultura familiar no Sul da Bahia, região historicamente conhecida pelo cultivo de cacau no sistema cabruca, sob a sombra de árvores nativas da Mata Atlântica. É assim que a cabruca e a meliponicultura somam forças na proteção da agrobiodiversidade, na preservação da abelha nativa Melipona mondury e no fortalecimento de comunidades rurais.
Até 2023, 120 famílias já foram alcançadas em cinco municípios baianos - Camamu, Ibirapitanga, Ilhéus, Itacaré e Uruçuca. A iniciativa é realizada em parceria pela Tabôa Fortalecimento Comunitário e pelo IF Baiano – Campus Uruçuca. E conta com os apoios do Ministério Público do Estado da Bahia, que também participou de sua concepção, e do Instituto humanize.