Indígenas tupinambá compõem o mais novo grupo de meliponicultoras/es do projeto Uruçu na Cabruca. Ao todo, foram capacitadas 17 pessoas na comunidade Acuípe de Baixo 2, para manejar a espécie Melipona mondury, popularmente conhecida como Uruçu Amarela. Depois do curso introdutório realizado nos dias 19 e 20 de setembro, elas/es receberão cinco colônias de abelhas emprestadas a partir do projeto, para iniciar a criação em um meliponário que será implantado em local escolhido pela comunidade.
A prática da meliponicultura tem relação direta com a cultura indígena e a história da criação de abelhas nativas, segundo relatos, remonta ao manejo desses polinizadores em potes de barro e troncos de árvores. “Essa é a nossa primeira capacitação em uma comunidade indígena, porque esse trabalho com as abelhas nativas começou a partir deles, que utilizavam o mel e derivados para artesanato, medicamentos, religiosidade. Hoje, estar aqui resgatando esses saberes e aprendendo junto com a comunidade é muito importante. Nós trazemos um olhar mais técnico sobre a criação, para ampliar suas possibilidades de renda e fortalecer a biodiversidade”, pontua Julianna Torres, responsável pelo setor de meliponicultura do IF Baiano e integrante da equipe de coordenação do projeto Uruçu na Cabruca.
No curso de meliponicultura básica, são abordadas dimensões culturais, biológicas e de manejo das abelhas nativas. “Durante as aulas, explicamos sobre as abelhas, a estrutura interna da colônia e também o manejo: multiplicação, alimentação em período de escassez, implantação de pasto”, explica Leia Dias, coordenadora do projeto Uruçu na Cabruca na Tabôa. “Nessa comunidade, por exemplo, há muita aroeira-pimenteira, planta que fornece resina, pólen e néctar para as abelhas, cujo cultivo pode ser ampliado gerando mais pimenta rosa, que é um produto que tem um mercado amplo, sendo outra fonte de renda para os meliponicultoras/es”, conta.
Mulheres e jovens são o público prioritário do projeto e, no dia a dia, o manejo é realizado como parte do trabalho na unidade produtiva, muitas vezes de forma coletiva. Para Naiara Oliveira, presidente da Associação dos Produtores Rurais do Acuípe de Baixo e participante do novo grupo, “a criação de abelhas vai ajudar muito, pois já temos plantação de cacau e queremos incrementar com outros cultivos. Inclusive, porque a meliponicultura pode agregar na nossa renda e, assim, não precisamos sair para trabalhar fora da comunidade, podemos trabalhar e nos desenvolver aqui mesmo”.
Já Maristela, nome indígena Amana Tupimanbá, liderança na comunidade e presidente da Associação Indígena Tupinambá do Acuípe do Meio II, conta que o curso de criação de abelhas foi muito esperado. “Nossa expectativa é alcançar os objetivos e produzir mel e derivados. Sabemos que a criação de abelhas tem base na cultura indígena e que temos elas no nosso território e aqui aprendemos a criar elas de forma correta”.
A websérie Uruçu na Cabruca: Meliponicultura na Prática, e o Guia de Criação de Uruçu Amarela, produzidos pelo projeto, estão sendo utilizados como material de apoio e consulta ao longo desta etapa.
Projeto Uruçu na Cabruca
O projeto Uruçu na Cabruca fomenta a prática da meliponicultura no contexto da agricultura familiar no Sul da Bahia, região historicamente conhecida pelo cultivo de cacau no sistema cabruca, sob a sombra de árvores nativas da Mata Atlântica. É assim que a cabruca e a meliponicultura somam forças na proteção da agrobiodiversidade, na preservação da abelha nativa Melipona mondury e no fortalecimento de comunidades rurais.
Desde o início do projeto, em 2019, já foram capacitadas 15 comunidades compostas por agricultoras/es familiares, alcançando mais de 120 famílias em cinco municípios baianos - Camamu, Ibirapitanga, Ilhéus, Itacaré e Uruçuca.
Nesta nova etapa, 60 meliponicultoras/es estão sendo capacitadas/os para integrar o projeto. Além da aldeia indígena, participarão de cursos introdutórios 16 famílias da Associação de Moradores e Agricultores do Rio do Engenho e Adjacências (Ilhéus), 11 famílias do Assentamento João Amazonas (Uruçuca) e 16 famílias do Assentamento São Bento (Ilhéus). O grupo que está desde 2019 já está na fase de produção de mel, como pode ser conferido AQUI.
A iniciativa é realizada em parceria pela Tabôa Fortalecimento Comunitário e pelo IF Baiano – Campus Uruçuca. E conta com os apoios do Ministério Público do Estado da Bahia, que também participou de sua concepção, e do Instituto humanize.
Fotos: Tacila Mendes | Acervo Tabôa