“Cacau é boa lavra, eu vou colher, a safra do verão, eu vou vender…”. Como lembra o canto de trabalho entoado por trabalhadoras/es rurais do sul da Bahia, a boa colheita do cacau é sinônimo de prosperidade. Para a agricultura familiar, que hoje protagoniza o cultivo do fruto na região, um dos gargalos para alavancar a produção é a dificuldade de acesso a recursos por meio de linhas convencionais de crédito produtivo.
Para fazer frente a essa situação, a Tabôa implementa, desde 2017, uma metodologia inovadora, que se diferencia por possuir processos mais simplificados e acessíveis às famílias agricultoras - nos quais o plano de investimento é construído junto com o/a produtor/a - e por associar o recurso financeiro ao acompanhamento técnico rural (Ater). Em 2024, a instituição alcançou a marca histórica de 1.058 créditos concedidos, impactando diretamente 872 pessoas.
Com inadimplência perto de zero e ganhos expressivos de produtividade e renda, essa metodologia de atuação tem se consolidado como estratégia de geração de impactos socioambientais nos territórios, a partir da melhoria da qualidade de vida das famílias agricultoras e do fortalecimento da cadeia produtiva do cacau, com a adoção de manejos de baixo impacto ambiental. De 2017 a 2024, foram mais de R$ 16 milhões investidos em iniciativas protagonizadas por agricultoras e agricultores familiares, sendo 71,2% destinados ao custeio do cacau.
Apenas em 2024, 460 famílias foram apoiadas. Como parte da metodologia, a equipe de crédito e a/o agricultor/a constroem juntos uma proposta que melhor se adeque às necessidades no momento. Para o recurso ser aplicado em conformidade com o que foi discutido, entram em campo o acompanhamento do agente de crédito e também do técnico extensionista rural que, no dia a dia, visam fortalecer autonomias na melhor gestão dos recursos e também no manejo mais sustentável da cabruca.
“A cacauicultura é uma atividade bastante antiga na região. Os nossos agricultores sabem o que precisam fazer e, na maioria das vezes, o que falta é recurso para executar, e um técnico que o acompanhe e oriente sobre melhores práticas. Então, o crédito entra como uma grande mola impulsionadora para a produtividade, sendo primordial para o salto na vida do agricultor”, conta Gabriel Chaves, gerente de Desenvolvimento Rural da Tabôa. O recurso vem sendo acessado, em sua maioria, por agricultoras/es assentados da reforma agrária e produtores de cacau de onze municípios do Sul e Baixo Sul da Bahia - Ibirapitanga, Ilhéus, Uruçuca, Camamu, Itacaré, Camacã, Coaraci, Igrapiúna, Arataca, Ubaitaba e Aurelino Leal.
O crédito facilitado amplia as possibilidades de melhorias de condições de trabalho no campo, por meio do investimento em equipamentos e máquinas que otimizam as atividades agrícolas. Os recursos também contribuem para fortalecer mulheres e jovens no processo produtivo, apoiando o beneficiamento e a comercialização de produtos do campo, atividades que contam com grande participação desses públicos.
Para Cristiane Oliveira, que reside em um projeto de assentamento em Itacaré (BA), os créditos acessados foram utilizados para multiplicar: novas frutíferas nascem no seu viveiro, que hoje é a sua principal fonte de renda. Com o recurso, foi possível multiplicar a produção do cacau, que passou de 2.000 para 7.000 mudas. “O foco é cacau, mas também produzo mudas de açaí, rambutan e cupuaçu”, explica.
Diversidade é geração de renda o ano inteiro
Na contramão da monocultura, o crédito produtivo para o cacau, ofertado pela Tabôa, tem como base a diversificação, uma das diretrizes do acompanhamento técnico rural. Nesse sentido, o investimento em SAF com cacau é o segundo maior investimento feito pelos das/os tomadoras/es de crédito, sendo 9,8% dos recursos destinados para essa finalidade.
Com culturas de ciclos diferentes em uma mesma área, é possível gerar renda o ano inteiro. “Eu costumo dizer que não dá mais para pôr todos os ovos em uma única cesta e que o agricultor precisa diversificar os cultivos”, lembra Gabriel, ao se referir ao ataque da doença vassoura-de-bruxa no fim dos anos 80, que atacou os cacaueiros plantados, à época, em sistema de monocultivo.
No Projeto de Assentamento Demétrio Costa, em Ilhéus (BA), o agricultor Fernando dos Santos utilizou um dos créditos a que teve acesso para plantar banana, aipim, pupunha hortaliça e goiaba e, com isso, ampliar sua produtividade com cacau em 58%. Para além do custeio com cacau, ele investiu na diversificação. “Desde o primeiro crédito, venho recebendo acompanhamento técnico especializado e aprimorando as práticas de adubação e manejo”, conta.
Ao longo dos anos, contamos com uma potente rede de parceiros e apoiadores, que contribuíram com diferentes momentos dessa trajetória: BNDES, Ciapra Baixo Sul, Fundação Solidaridad, Grupo Gaia, Instituto Arapyaú, Instituto humanize, Instituto Ibirapitanga, Instituto Itausa, Inter-American Foundation (IAF), Funbio, Porticus, Rabo Foundation, Rede de Agroecologia Povos da Mata, Secretaria Municipal de Agricultura de Ibirapitanga.
*As histórias de agricultoras e agricultores registradas nesta matéria podem ser conferidas, na íntegra, em nosso Relatório de Atividades 2023. Leia aqui.